segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

ARQUITECTURA AO CENTRO #44



IGREJA DE NOSSA SENHORA DAS NECESSIDADES
LEIRIA, CHÃS

Célia Faria e Inês Cortesão
com Marco dos Santos, Liliana Pereira
Bica Arquitectos
2011

O Silêncio como linguagem

A intervenção tem por base um edifício construído no centro de uma aldeia, localizada nas proximidades da cidade de Leiria, cujo interior se encontrava em tosco. Este novo edifício veio substituir a antiga igreja, recentemente demolida, que já não comportava o elevado número de crentes que existe actualmente na aldeia e que aos domingos e em dias festivos se desloca a este espaço de culto.
Partimos da ideia de construir o Silêncio: num mundo cheio de ruído, a igreja representa uma pausa, um momento de paz e de reflexão. A escolha dos materiais no seu estado de verdade absoluta, a depuração das formas convencionais, a forma de moldar a luz natural e artificial e o despojamento do espaço de ornamentação narrativa, procuram, através de normas essenciais da arquitectura, as propriedades universais dos sentidos e do espírito.
A Assembleia desenvolve-se em forma de anfiteatro à volta do Presbitério, lugar onde é transmitida a palavra de Deus e onde está colocado Cristo. A sua presença física está representada numa cruz em latão polido, sobre uma cruz feita de luz, um rasgo recortado na parede, ao centro do Presbitério.
A parede frontal, como um longo retábulo, é composto por um grande painel rendilhado em madeira de ácer: uma composição vertical de finos prumos de madeira e linhas de luz, numa interpretação contemporânea da técnica da talha dourada, usada no retábulo da antiga igreja. A eleição da madeira também utilizada no revestimento do pavimento e nos bancos, confere temperatura ao espaço.
A partir dos recortes do alçado curvo, construímos o tecto e introduzimos iluminação zenital e artificial, ligando cada um desses recortes aos vãos situados sobre o altar. O desenho do tecto expressa uma tensão formal que se assemelha a um ostensório e procura reforçar a imagem de luz divina, ao convergir o nosso olhar para o ponto cardeal onde o sol nasce e se espalha por todo o espaço.
Para as celebrações diárias, foi criada uma pequena capela de forma curva, como uma Ábside, contígua à Assembleia. A inclinação do tecto da Assembleia prolonga-se na capela mas não toca na parede do altar, permitindo que a luz entre e se espalhe, enfatizando o momento solene.

site: bicaarquitectos.com

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