domingo, 5 de março de 2017

PROJECTAR COM JEAN PROUVÉ


Este documentário sobre Jean Prouvé já esteve programado para uma sessão dupla da actividade PROJECTAR, que por indisponibilidade de tradução e legendagem em português não foi possível exibir, vem agora enquadrado pela temática de casas uni-familiares económicas auto-construídas, para levar a cabo no auditório do Centro de Negócios de Ansião no dia 9 de Março, pelas 19h00.

JEAN PROUVÉ (1901-1984)

Jean Prouvé nasceu a 8 de Abril de 1901 em Paris, segundo de sete filhos de Victor Prouvé, pintor e escultor, e de Marie Amélie Charlotte Duhamel, pianista. Cresce no ambiente artístico da École de Nancy a que o pai pertencia. Devido a dificuldades financeiras da família tem de abandonar os estudos em 1916, e torna-se aprendiz do serralheiro Émile Robert em Enghien, e depois em 1919 na oficina de trabalhos em metal do parisiense Aldabert Szabo.

Após o serviço militar, em 1923-24, abre em Nancy a sua primeira oficina onde começa a produzir peças em metal para candeeiros, candelabros, corrimãos e concebe mobiliário seu, como a «cadeira inclinável» (1924), em aço dobrado lacado e lona. Como artesão de ferro forjado recebe encomendas de arquitectos locais como Jean Bourgon, Pierre Le Bourgeois, Raphaël Oudeville ou Alfred Thomas para contribuir para os seus projectos Art Deco.

Em 1926 recebe a encomenda para fazer as grades de entrada da Villa Reifenberg, em Paris, projecto de Robert Mallet-Stevens, o qual lhe solicita de novo, em 1928, a realização das ferragens retráteis do quarto ao ar-livre no terraço da Villa Noailles.

Abandona progressivamente os estilos decorativos, e volta-se para a criação de mobiliários e elementos arquitectónicos para a construção de casas e funda, em 1931, a SA des Ateliers Jean Prouvé, pela qual produz o mobiliário para os sanatórios do planalto de Assy, e a partir de 1935, projecta a Maison du Peuple de Clichy com Eugène Beaudouin, Marcel Lods e Vladimir Bodiansky, considerado como precursor da arquitectura moderna. Colaborou também com Charlotte Perriand e Pierre Jeanneret na concepção de diverso mobiliário.

Privilegiou o sector publico nas áreas em crescimento da saúde, educação e administração, reflexo de um ideal social mas também por aí poder providenciar uma economia de escala. Por volta de 1936 tinha em produção um catálogo de vários modelos padrão de mobiliário e equipamento para hospitais, escolas e escritórios.

Vendo o potencial da produção em massa, Prouvé desenvolveu e patenteou vários produtos industriais para a construção de edifícios com o uso de folha metálica quinada, incluindo divisórias móveis, portas de metal e cabinas de elevadores. Daí passou para propostas e protótipos de pequenas casas de férias pré-fabricadas em metal como a BLPS (1937–39), ou casernas portáteis para o Exército Francês (1939).

Durante a Guerra manteve os seus "Ateliers" em actividade com a produção de bicicletas e um forno denominado "Pyrobal" que trabalhava com qualquer combustível, e Prouvé envolveu-se politicamente como membro da Resistência Francesa, envolvimento que lhe foi reconhecido após a Guerra com a sua nomeação para Presidente do Município de Nancy.

Em 1947, Prouvé construiu a fábrica de Maxéville, nos arredores de Nancy, onde produziu mobiliário e desenvolveu extensa investigação sobre a utilização de alumínio na arquitectura. Em 1949, Prouvé e o seu irmão Henri ganham o contrato do Ministério da Reconstrução e Urbanismo para a construção de doze moradias industriais em Meudon, nos arredores de Paris, para demonstrar o seu sistema de pré-fabricação de edifícios em metal. Construídos os protótipos do que poderia ser uma importante encomenda, não foi dado seguimento ao projecto.

Prouvé produziu edifícios industriais em alumínio e enviou centenas de coberturas de alumínio para África. Também projectou uma casa pré-fabricada em alumínio, a Maison Tropicale, destinada a suprir a falta de casas e edifícios públicos nas colónias francesas em África. Desenhou e produziu três protótipos para a África Ocidental entre 1949 e 1951. Uma foi enviada para Niamey, capital do Níger, e duas para Brazzaville, então capital do Congo Francês. Para optimização do transporte, todas as partes eram planas, leves e podiam ser facilmente embaladas para enviar num avião de carga.

Em 1951, realizou as coberturas em alumínio para a tipografia Mame em Tours (arquitecto Bernard Zehrfuss), uma inovação mundial. Mas os custos de instalação da fábrica em Maxéville e o valor dos investimentos a fazer levam a empresa à beira da falência, salva com a entrada no capital de L'Aluminium francês primeiro, e da Cégedur de seguida, mas com a consequência de ser retirada a Jean Prouvé a direcção da empresa (1953).

Tendo perdido a esperança de recuperar os seus Ateliers de Maxéville, Prouvé funda, com o arquitecto Michel Bataille, Les Constructions Jean Prouvé, e realiza a Maison des Jours Meilleurs, montada no Salon des Arts Ménagers em Fevereiro de 1956 em Paris. «É a mais bela casa que conheço» dirá Le Corbusier. Mas com a recusa de licença pelo Centre Scientifique et Technique du Bâtiment não passará de um protótipo.

É contratado pela Compagnie Industrielle de Matériel de Transport (CIMT) como responsável do departamento «construção» (1957), mas com grande desgosto seu, Prouvé ficará como desenhador, afastado das oficinas.

Desenvolve os sistemas de fachadas ligeiras, aproveitando as suas pesquisas anteriores, nas quais é determinante o perfil resistente, melhorado por processos de fabrico de ponta com a resolução de problemas de acabamentos e de isolamento, aplicado em obras como a aérogare de Orly-Sul (arquitecto Henri Vicariot, 1959), com variações e adaptações no Hôtel de ville de Grenoble (arquitecto Maurice Novarina, 1966) ou na Faculdade de Medicina de Roterdão, (arquitecto Choisy, 1967).

Em 1966, Prouvé sai da CIMT e abre um gabinete de estudos onde se elaboram projectos que marcam o seu tempo e revelam a constante evolução e o extraordinário espírito de adaptação deste construtor. Colabora com os arquitectos mais prestigiados para edifícios que ficam com a marca da sua intervenção, como o Centre des Nouvelles Industries et Technologies (CNIT), torre Nobel em Paris, La Défense (arquitecto Jean de Mailly architecte, 1967), o edifício V (Miollis) da UNESCO em Paris (arquitecto Bernard Zehrfuss, 1969), ou a sede do Partido Comunista Francês em Paris (arquitecto Oscar Niemeyer, 1970).

De 1957 a 1970, Prouvé é convidado a ocupar a cátedra de Artes Aplicadas do Conservatório Nacional de Artes e Ofícios em Paris. Desde sempre interessado pela pedagogia, põe em prática um ensino que ilustra a sua abordagem industrial da construção, baseada na análise de «objectos técnicos», do automóvel à construção, muitas vezes a partir das suas próprias experiências. É também para si a oportunidade de formular as suas preocupações no que respeita à integração do edifício no ambiente.

O final da carreira de Prouvé é marcado pela experimentação de novos materiais (estações de serviço cilindricas Total) ou de componentes (painéis de fachada da Universidade de Lyon-Bron), assim como por diversos projectos demasiado audaciosos para serem realizados, mas que trazem à sua obra uma dimensão urbanistica como a sede do Ministério da Educação Nacional (com Joseph Belmont et Jean Swetchine, 1970) ou a Estação dos Arcos 2000 (com Reiko Hayama e Serge Binotto, 1970).

É também o momento em que se verifica um reconhecimento internacional e alguns sucessos: êxitos técnicos pela estrutura do Palácio Polidesportivo de Paris-Bercy (arquitectos Michel Andrault e Pierre Parat, 1978) ou da torre-radar de Ouessant que transcende o principio do núcleo central em betão esboçado em Maxéville (arquitecto Jacquin, 1981).

E êxito «moral» quando Prouvé é nomeado presidente do Júri internacional para o concurso do Centre national d'art et de culture promovido pelo presidente Georges Pompidou (1971), no qual é determinante o seu papel na escolha do projecto de Renzo Piano e Richard Rogers, de certo modo uma parte da «herança cultural» que nos deixa Prouvé.

Jean Prouvé morreu em Nancy em 1984.

A casa que construiu para si e para sua família em Nancy, em 1954, foi classificada como monument historique por portaria de 2 de Novembro de 1987.


Maison des jours meilleurs, (Paris, 1956)

Informações sobre os documentários aqui.
Mapa de localização do local onde decorrerá a sessão aqui.

Apoio:
Município de Ansião

PROGRAMA:

9 de Março, 19h00
Auditório do Centro de Negócios de Ansião
A Casa JEAN PROUVÉ
(2004, Stan Neumann, 24')
A Casa Unal
CLAUDE HÄUSERMANN-COSTY

(2014, Julien Donada, 27')

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